por João Ibaixe Jr.[*]
As diversas referências que vi ao livro “Glamorama” de Bret
Easton Ellis, como epígrafe em textos sobre moda, despertaram-me a curiosidade
de conhecê-lo. Lançado no Brasil em 2001 e esgotado, fui encontrá-lo num sebo.
Mais conhecido por “Psicopata Americano”, o qual virou
filme, com Christian Bale no papel principal do yuppie, cujo vazio existencial é
preenchido pela prática de assassinatos em série, Ellis é visto como autor da
geração X e crítico da sociedade de consumo e do individualismo exacerbado.
Por seus livros, ele consegue ser amado e odiado pela
crítica especializada, mas três deles foram para as telas (o mencionado
“Psicopata Americano”, “Regras de Atração” e “Abaixo de Zero”), elevando o
autor à categoria de celebridade.
Talvez por isso, em “Glamorama”, Ellis ataca justamente a
figura das celebridades, presas a um mundo de aparências e culto vazio à própria
imagem. Enquanto no “Psicopata”, o foco está nos “young urban professionals”,
símbolos de uma geração ambiciosa de Wall Street, aqui se trata dos modelos,
atores e profissionais do universo da moda.
A narrativa ágil e fragmentária lança o leitor no mundo
frenético em que personagens do mundo fashion dialogam, ou fofocam, sempre
pensando em frivolidades e interesses mesquinhos para preservar aparência e
status social.
O modelo Victor Ward narra a trama em primeira pessoa. Com
27 anos, é a bola da vez. Bonitão, sempre rodeado por garotas esculturais,
namora a super top model Chloe, mas a trai com outra ou outras. Suas
preocupações são aparecer em capas de revista, manter o corpo malhado e
inaugurar seu bar num ponto supervalorizado de Nova Iorque, além de buscar a
carreira de ator.
Acompanhado de gente fútil, pretende que seu clube seja
frequentado pelas grandes celebridades, cujos nomes desfilam no livro a torto e
a direito, em mais de mil citações, acompanhadas de marcas e lugares “in”. Tudo
corre leve e solto até que ele conhece a figura misteriosa de Fred Palakon, que
o recruta para a estranha missão de resgatar uma antiga namorada em Londres.
A partir daí, uma avalanche de situações surreais,
envolvendo espionagem, terrorismo e muita tietagem, tem lugar enquanto ainda os
personagens mantêm uma postura superficial ligada à preocupação com o consumo
excessivo e a estética vazia. Muita violência, sexo e... trilha sonora, com a
figura esparsa de um diretor que, vez ou outra, determina a volta da cena ou
grita “corta”. Seria tudo um filme?
Certamente o livro será filme – aliás, já existe projeto
para isso – e a forma literária adotada convida a essa passagem. Embora bem
escrito, com todas as suas citações de objetos de consumo, ele pode também
integrar esse universo.
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João Ibaixe Jr., escritor e
advogado, é vice-presidente da Comissão de Estudos em Direito da Moda da OAB/SP
e colaborador do Guia Livros da Folha de São Paulo
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