Apesar da alta competitividade e de problemas estruturais,
como questões de infraestrutura e de carga tributária, o mercado é mais
promissor para quem está interessado em investir na moda hoje em dia do que no
passado. A opinião é dos empresários Tito Bessa Jr., criador da TNG, e Anderson
Birman, da Arezzo.
Os dois participaram da nova edição do Encontro PME, evento
que discutiu hoje, em São Paulo, os rumos do mercado da moda e as oportunidades
que o segmento reserva para quem já é empreendedor ou está interessado em se
tornar um.
"Eu acho que o ambiente é mais próspero hoje do que foi
no passado. O mercado tem hoje muita competição, mas a competição foi saudável,
é algo que faz com que as empresas se movimentem cada vez mais", diz Tito
Bessa Jr., que tem hoje 178 lojas da TNG, todas próprias, com produtos
distribuídos também para 800 pontos de venda multi marcas.
Anderson Birman, atual presidente do Conselho Administrativo
da Arezzo, empresa que ele fundou há 43 anos e, desde o ano passado, é tocada
por seu filho, Alexandre, vê como exemplo de um momento mais promissor o
assédio de investidores sobre as marcas nacionais. "O mercado olha com
mais facilidade para empreendimentos que no passado não despertariam esse
interesse", diz o empresário, ele próprio um beneficiário dessa nova
conjuntura. Em 2007, Birman vendeu 25%
do capital da Arezzo para um fundo de private Equity e, quatro anos
depois, abriu o capital da companhia na Bolsa de Valores.
Estilistas. A opinião dos dois grandes empresários, de certa
forma, encontrou eco também nos demais convidados do Encontro PME. Para os
estilistas, que participaram do terceiro módulo do evento, ao passo em que o
mercado da moda está mais competitivo e, consequentemente, exigente, os
profissionais que atuam no setor, sejam eles empreendedores ou não, despontam
também como cada vez mais preparados.
E por "profissionais preparados", o estilista Amir
Slama destaca a necessidade de dominar recursos que vão além da formação
criativa, ao contrário que se pensa do trabalho na moda. "O estilista tem
de ter a coisa do empreendedor", explica ele. "A criação leva somente
cinco minutos, enquanto que a execução leva horas e dias. (O estilista) precisa
coordenar não só o desenho, mas a confecção, a estamparia."
É por essas e outras que Roberto Davidowicz, presidente da
Associação Brasileira dos Estilistas (Abest), pontua que o mundo da moda não
tem as portas abertas apenas para designers. Para ele, que também é sócio da
marca UMA, há espaço em outras áreas. "Este é um setor muito dinâmico e o
profissionalismo cresceu muito. A moda reserva espaço para gente da área de
marketing, de vendas, gente de áreas estratégicas", afirma.
Um exemplo que resume bem a configuração sugerida por
Davidowicz vem dos irmãos Lourenço Bartholomei e Cecilia Prado, respectivamente
diretor comercial e diretora da marca Cecilia Prado. Os dois atribuem aos
conhecimentos distintos e complementares o bom desempenho do empreendimento -
enquanto a irmã é especialista em moda, o irmão tem bagagem adquirida no mercado
financeiro.
"A arte da criação é só a ponta do iceberg",
resume Bartholomei, para quem um estilista deve também ser um bom marqueteiro.
"Têm marcas que não fazem um produto tão bom e, mesmo assim, fazem
sucesso", comenta.
Internet. Antes dos estilistas, o evento já tinha reunido em
dois módulos distintos proprietários de lojas virtuais e fundadores de marcas
de camisetas, um nicho com muitos competidores atualmente. Em comum entre eles,
o fato de que ambos trataram da web como canal viável de distribuição para o
consumidor final.
As fundadoras dos e-commerces OQVestir, Noiva nas Nuves e
Dress & Go ressaltaram os desafios em iniciar uma operação na área. Apesar
da popularidade que as lojas virtuais de roupas e acessórios têm atualmente
pelo Brasil, convencer fornecedores sobre a viabilidade do negócio ainda é um
obstáculo a ser considerado pelo empresário do ramo, dizem.
"(No início,) a gente teve um grande trabalho de brand
(marca) para demonstrar aos fornecedores que íamos cuidar bem dos
produtos", afirmou Mariana Medeiros, que ao lado das sócias Rosana Saigh e
Isabel Humberg lançou há seis anos o site OQVestir, negócio que mescla loja
online a uma espécie de curadoria de moda.
A empresária hoje conta com investimento de fundos de
capital de risco internacionais e emprega 125 pessoas. Em 2015 ela se prepara
para romper a casa dos R$ 100 milhões em faturamento anual. Uma realidade muito
diferente das três outras convidadas a participar do debate, as sócias Barbara
Diniz e Mariana Penazzo, do Dress & Go, e Samantha Fasolari, do Noiva na
Nuvens. Elas ainda tocam empreendimentos novatos (Samantha lançou o seu
e-commerce há 30 dias), mas relatam problemas parecidos.
Para as sócias do Dress & Go, que aluga vestidos de
marcas famosas, o desafio é fazer com o que a cliente confie na eficiência da
operação sem provar o modelo antes. Um problema muito parecido com o de
Samantha, que vende vestido de noiva pela internet. "Quando a menina vai
casar, sua primeira preocupação é provar o vestido. O que estou lutando (para
contornar o problema) é por entregar um vestido de muita qualidade e com preços
mais baixos", afirma a fundadora do Noiva nas Nuvens.
Camisetas. A onda de marcas especializadas em camisetas foi
o mote para os debates do segundo módulo do evento. Três empresários do ramo
participaram da discussão, Sandra Kempenich, da loja It's Only Rock'n Roll,
Henrique West, da Siamese, e Eder Lima, fundador da marca Humor Chique.
A importância da internet mais uma vez foi destacada, De
acordo com o último relatório WebShoppers, realizado anualmente pela
consultoria E-bit, 19% dos 88,3 milhões de pedidos em 2013 foram de roupas e acessórios no
Brasil. "Eu acho que não importa o que você vai comercializar, sempre é
preciso pensar na possibilidade de ter uma loja virtual, aconselhou Eder Lima.
O planejamento antes e durante a condução do negócio é um
ponto que, para Sandra Kempenich e Henrique West, vale a dedicação do
empreendedor. "Mesmo que seja difícil se planejar, é importante. As
pessoas precisam pensar nos piores e nos melhores cenários para que se consiga
acertar um pouco do investimento inicial", afirma Sandra. A ideia com isso
não é apenas evitar eventuais erros de gestão, mas também contratempos de
marketing e posicionamento da empresa. "Hoje, no mercado da moda, se você
errar uma estampa, você derruba uma marca", resume West.
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